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“Sofri
bullying por ser a cdf da sala, das pessoas só chegarem para
conversar comigo quando a professora falava que a prova ia ser em
dupla. Por isso, eu amo japoneses (nem sou tão inteligente assim,
mas né?). Sempre me chamaram de lésbica por não ter medo de
barata, treinar karate com os meninos, assistir futebol e não ter
muita frescura. Sofri também por ser branquela, por ser gorda
quando criança e magra demais quando adolescente. Acho que é isso.
Que eu lembre... […]E teve quando eu fiquei gravida. Chegou uma
pessoa em mim, depois que eu ganhei minha menina e falou : 'Você
ERA tão inteligente'. Eu: 'Nem sabia que a gente paria o cérebro
junto com a placenta, mas obrigado mesmo assim'. A pessoa não fala
comigo mais.” Lívia L. - 26 anos.
“...então,
é tanta coisa pra lembrar, mas eu acho importante fazer isso, então
vamos lá.
Eu
nunca fui uma garota muito popular. Não sei se você já viu o
filme 'Johnny e June', mas nesse filme a June Carter - na pele da
Reese Whiterspoon - diz: 'Eu nunca fui a mais bonita das minhas
irmãs, e nem a que cantava melhor. Por isso, eu precisava chamar a
atenção de outro jeito, e resolvi ser engraçada'. E foi assim que
eu lidei com a minha falta de atributos. sempre fiz piadinhas,
sempre tentei ser uma pessoa descontraída e bem humorada, e de
fato, atraí muitas pessoas pro meu lado, fiz um montão de amigos.
Mas, no fundo, no fundo, não era bem esse tipo de atenção que eu
queria chamar.
Primeiro,
mexiam comigo porque sou muito baixinha. demorei a entrar no estirão
e hoje meço 1,58m. Isso foi motivo de piadas por quase toda a minha
infância/pré-adolescência. 'Chihuahua', 'cachorra encolhida',
'anã', eram só alguns dos apelidos que eu colecionava. O segundo
motivo era meu cabelo, que nunca foi dos melhores, e com o qual sou
traumatizada até hoje, me rendendo a químicas e mais químicas pra
ver se dá jeito. As piadas eram sem graça e racistas, tipo
'macaca', 'pixaim', 'tição', etc. Eu fui criada em Campo Grande, e
lá as pessoas simplesmente pensam assim. ganhei a eleição de mais
feia da sala diversas vezes (risos). Se você não é loira lá,
você está perdida.
Enfim,
o tempo foi passando e aos 15 anos eu dei meu primeiro beijo e
comecei a namorar. Ele era aluno da EPCAr e quando nos viram juntos
muitos dos meus 'amigos' disseram: 'Nossa, ele é quase cadete, pode
arranjar garotas mais bonitas que você com o salário dele'. Mas eu
achava que ele gostava de mim e tava tudo certo. Algum tempo depois,
o namoro foi se tornando destrutivo e horrível e eu não o largava
pelo trauma, pelo meno de nunca mais alguém olhar pra mim, de tão
feia que eu era, e eu morrer sozinha. Aí quando eu vi que ao lado
dele podia sofrer alguma violência, resolvi deixá-lo.
Consegui
me soltar mais e ficar com os garotos. Depois que comecei, não
parei mais. Mas a questão é que hoje em dia, o primeiro pensamento
que me vem à cabeça é o de que eles querem só sexo comigo. Eu
acabo sendo 'fácil' porque sinto que a única maneira de alguém
querer alguma coisa. quer dizer, não sou bonita, por que um cara ia
querer ficar comigo, por que ele ia querer algo além de uma noite?
O complicado de tudo isso é que eu não sei se é o bullying que
mexeu com a minha cabeça ou eu mesma que me compliquei, enfim...”
Débora T – 19 anos.
Débora T – 19 anos.
“Então, quando meus pais se
separaram eu tinha 1 ano e 8 meses, isso foi em 1978, quando
mulheres divorciadas eram mal vistas e as crianças eram tidas como
problemáticas. Qualquer coisa comum que acontecia na escola, vinha
a psicóloga, a diretora e a orientadora. Chamavam minha mãe e
tudo. Sempre levei isso numa boa, até que eu comecei a engordar. Aí
que começou o grande problema. Já sofria constrangimento dentro da
familia. Meu pai me bombardeava com cobranças. Imagina um pai
tratando a filha de 6 anos como lixo porque ela era gorda e que eu
era causa de vergonha pra ele. Com 9 anos mudei pra uma escola nova
e lá eu conheci o que era bulling. As outras crianças me excluiam
de tudo, me ridicularizavam. Pedi pra voltar pra escola em que eu
estudava antes e aí lá veio meu pai de novo me encher, dizendo que
eu era covarde e que fugia da raia. Até os 15 anos, ele me levou à
vários endocrinologistas e nunca emagrecia. Quando eu senti
vontade, fiz dieta e quando estava com 17 anos, já tinha emagrecido
35 quilos. Uns 3 anos depois meu pai veio pedir desculpas, que se
sentia culpado por tudo que ele fez. O pior bulling, sem dúvidas,
foi o dele. Hoje nos entendemos, mas quando vejo pais enchendo as
crianças por causa de obesidade, eu surto."Daniela B - 37 anos.
"Na
escola onde eu estudei da primeira até a quinta série, tinha uma
guria que também era negra, porém, morava num lugar bem miserável,
sem água encanada, enfim, saneamento básico zero.. Essa guria e eu,
éramos as únicas negras na escola e eu morava no centro, bom,
bairro, sempre estava limpa, com o uniforme impecável, material
escolar em ordem e sempre tinha a melissinha da moda.. e essa meninna
não suportava isso (tava sempre suja, escabelada e usava um material
escolar improvisado), passava puxando as minhas trancinhas, me
judiava horrores, e dizia: 'Não é justo, se tu também é preta,
não pode ter uma vida de branco, tu tinha q ser bem pobre que nem
eu!' ...Isso foi durante toda a primeira série, na segunda ela
desistiu de estudar e foi viver nas ruas."
Paula S. - 33 anos.
“Então,
eu sou de família humilde, estudava numa escola publica de bairro,
sofria muito porque era uma das mais pobres. Inclusive me sujavam
porque sabiam que eu nao tinha outro uniforme pra vestir.Eu só
pensei em estudar e sair logo daquele inferno, que ultrapassava a
escola, já que eles me perseguiam ate em casa. Estudei muito,
consegui entrar numa escola técnica no ensino médio, depois ralei e
consegui uma bolsa na faculdade. Prestei concurso publico e passei,
dois anos mais tarde saí pra entrar numa empresa grande,
oportunidade que tive por causa da faculdade. Fui morar sozinha,
sofri, mas juntei dinheiro e hoje estou em intercambio morando em
NY.As mesmas pessoas que me humilharam, me bateram e tentaram
acabar comigo, estão hoje vivendo miseravelmente. Mas eu passei por
cima de tudo e consegui chegar onde eu quis sem ajuda de ninguém.”K.B.
- 23 anos.
“Eu
tinha 15 anos e estava no segundo ano do ensino médio. Era meu
segundo ano na escola pública e eu já era assumido, tanto na minha
casa quanto na escola. Sempre rolou xingamento mas nunca dei bola. Um
dia era véspera de carnaval as aulas terminaram mais cedo eu fui
embora para minha casa andando pela rua só. Faltando um quarteirão
para chegar na minha uns moleques mexeram comigo, me xingaram,
ficaram fazendo piada, dei de ombros e segui meu caminho. Quando eu
fui puxado e caí no chão. Jogaram uma bicicleta em cima de mim e
começaram a me bater. Bater no meu rosto, me chutar e o tempo todo
eles me xingavam. Eu estava apanhando na calçada de um senhor que
estava lavando o carro dele, ele até chegou a perguntar o que estava
acontecendo, mas o moleques falaram que eu tinha mexido com eles que
eu era gay e eles estavam me dando uma lição, ai o senhor não fez
mais nada. Antes deles irem embora eles levaram um óculos de sol
meu. Depois disso eu tive dois afundamentos de crânio, quebraram
minha testa em dois lugares, derrame ocular, e fiquei com o corpo
todo machucado por uns dias.”Felipe L. - 26 anos.
“Lembro
de uma vez que eu estava no banheiro esperando minha vez de usar e
duas gurias começaram a falar 'Pensei que você fosse homem, sai
daqui! O banheiro masculino é aqui do lado!' E sairam rindo da minha
cara, fique arrasada nesse dia. Tinha uns 12/13 anos, já gostava de
mulheres, mas ainda não entendia a maldade das pessoas.”
Gabi F.
“...horrível
né? Tinha um menino na minha sala e eu já tinha uns 16 anos. Ele
era nerd, muito feinho, tadinho e tímido. Dai, pessoal colocava
apelido, ria dele e tal. E uma amiga minha da época era muito
bonita, popular na sala e da turma da zoeira. Ela ficava cantando ele
de brincadeira, debochando, sabe? Mandava beijo e tal. E eu achava
graça disso. Como ele não revidava, era na dele, tímido, não
ficava pensando que ele pudesse não gostar. Ela nunca ia dar bola de
verdade pra ele, era uma sacanagem aquilo, ridicularizar né? Mas eu
num tinha consciência disso... E olha só, consigo lembrar o
apelido, mas não consigo lembrar o nome dele.”Dani F.